(Foto: Divulgação)
Numa encenação não realista, dirigida por Daniel Herz e idealizada por Eduardo Barata, Nathalia Dill e Vilma Mello vivem, respectivamente, Fulaninha e Dona Coisa, em cartaz no Teatro Renaissance. “A possibilidade de emocionar o público dentro de uma comédia é algo quem me instiga e me interessa”, detalha o diretor. A peça se apropria do humor, da carência, da solidão e do encontro para falar das diferenças de origem e da relação entre duas pessoas, ao mesmo tempo, tão ricas e diferentes. “Fui assistente de direção do Nanini na primeira montagem carioca, com Louise Cardoso, em 1990. Quando convidei o Daniel para dirigir, planejamos uma encenação dinâmica e divertida, com uma nova roupagem. O espetáculo mantém vários elementos de referência aos anos 90, como: telefone com fio, bip de mensagens, secretária eletrônica, entre outros. Contudo, as emoções, situações e relações são completamente atuais”, detalha o produtor e idealizador Eduardo Barata.
De um lado está Dona Coisa, uma mulher moderna, independente, que prefere manter certa distância em suas relações. Do outro está Fulaninha, uma jovem com a cabeça cheia de sonhos que chega do interior para trabalhar como empregada doméstica. O espetáculo retrata, através do humor, as dificuldades da convivência diária entre ambas, resultado das trapalhadas de Fulaninha, que entre muitas confusões pensa que a piscina do prédio chique de Dona Coisa é um açude; se assusta com o telefone e elevador; e ainda arruma um namorado bem enrolado, um técnico de telefone interpretado por Rafael Canedo. Apesar do estranhamento com a vida moderna, Fulaninha é muito esperta e usa a inteligência para conquistar a patroa, que só admite a empregada com muitas exigências, como dormir no local, trabalhar nos finais de semana e não namorar. Sem saber sobre seus direitos, Fulaninha acata as exigências por também gostar da patroa e aproveita para curtir a casa como se, literalmente, fosse sua, usando as roupas de Dona Coisa e comendo suas comidas preferidas.
“Todos temos na vida um lado Fulaninha e um lado Dona Coisa. Brincamos com isso quando as atrizes invertem de papel no palco”, conta Herz, que traz para a encenação a questão da temática racial pensada e idealizada pelas equipes de produção e criação, desde a programação visual, que utiliza uma imagem em preto e branco das atrizes, até a iluminação, que acentua o momento de inversão por uma mudança de direção de focos.
“É um dos momentos chave do espetáculo”, afirma o iluminador Renato Machado. A cenografia de Fernando Melo da Costa, com algumas sugestões de elementos que compõe a casa de Dona Coisa, propõe um espaço de jogo cênico. O espetáculo faz com que cada espectador idealize uma casa diferente para Dona Coisa, através da imaginação.
“Estar no lugar da patroa tem um significado que vai além do particular: é político e social. Falamos aqui não só do empoderamento negro, mas também da divisão de classes. O público esbarra numa comédia leve que aponta para a reconstrução de valores éticos e estéticos”, comenta Vilma Melo, primeira atriz negra a ganhar o prêmio Shell RJ (29° edição) na categoria de melhor atriz. “Quando o Eduardo me mostrou o texto, eu topei fazer na hora. A peça toca num ponto que ainda é tabu na nossa sociedade, o trabalho da empregada doméstica, que transita em uma linha tênue entre o privado e o profissional”, conta Nathalia Dill.
“Como as mudanças são muito rápidas e ninguém sai de cena praticamente, resolvemos fazer uma brincadeira a partir do conceito de transformação”, conta Clívia Cohen, responsável pelos figurinos, que se transformam em múltiplos elementos e adereços de cena. “Uma hora a bolsa da Dona Coisa vira o avental de Fulaninha (símbolo da empregada doméstica), outra hora a saia vira um mantô (símbolo de poder e riqueza), então assim como a relação entre as duas vai se transformando, os figurinos seguem a mesma proposta”, conclui. Leandro Castilho compôs vinhetas e trilhas que auxiliam nas transições de cenas. “A música contribui bastante com o humor da peça. Aproveitei ritmos bem brasileiros, como batucada de tamborim, cuíca e samba, na hora de fazer as vinhetas”, comenta Castilho.
“Em um momento em que o país passou por uma transformação nos direitos trabalhistas dos empregados domésticos, a peça aparece como uma oportunidade de falar das recentes modificações, de maneira bem-humorada, sem deixar de ser informativa. Uma peça que fala das muitas possibilidades e ambiguidades que existem numa relação entre o personagem que oprime e o que é oprimido”, finaliza o produtor Eduardo Barata.
Serviço:
Temporada: de 07 de Outubro á 29 de Outubro
Horário: Sábados ás 19h | Domingos ás 20h
Recomendação: 12 anos
Duração: 70 min
Ingressos: R$100,00 (Com opção de meia entrada)
Local: Teatro Renaissance
Endereço: Al. Santos, nº 2233 - São Paulo
Vendas pela Internet: www. ingressorapido.com.br
Informações: (11) 3069-2233
Funcionamento da Bilheteria: Bilheteria de terça a domingo, das 14h às 20h.