top of page
  • Bianca

Rosamaria Murtinho, Letícia Spiller e grande elenco estreiam na capital paulista “Dorotéia”


(Foto: Divulgação)

Para comemorar seus 60 anos de carreira, Rosamaria Murtinho interpreta a protagonista e vilã Dona Flávia na peça Dorotéia. Encabeçando o elenco de mais dez atores, Rosamaria e Letícia Spiller, interpretando Dorotéia, encenam pela primeira vez um Nelson Rodrigues nessa montagem que tem direção e encenação de Jorge Farjalla, mantendo e ampliando o diálogo com questões contemporâneas.


A montagem, onde o sagrado e o profano caminham juntos, estreou em fevereiro de 2016 no Rio de Janeiro e realizou 4 temporadas na cidade sempre com casa lotada. Excursionou também por Uberlândia, Araxá, Maceió, Recife, Fortaleza e Salvador com grande sucesso de público e crítica.


Escrita em 1949, Dorotéia fecha o ciclo das obras do teatro desagradável de Nelson Rodrigues, intitulado pelo crítico Sábato Magaldi como “peças míticas” sendo a única farsa escrita pelo autor. O texto é uma ode à beleza da mulher onde a heroína, título da obra, segue em busca da destruição de sua própria beleza para se igualar a feiura de suas primas Dona Flávia, Maura e Carmelita.


Matriarca da família, Dona Flávia recebe Dorotéia, ex-prostituta que largou a profissão após a morte do filho e vai buscar abrigo na casa de suas primas, onde vivem também Maura e Carmelita, num espaço sem quartos e onde há 20 não entram homens. Três viúvas puritanas e feias que não dormem para não sonhar e, portanto, condenadas à desumanização e à negação do corpo, dos sentimentos e da sexualidade. Arrependida, Dorotéia procura abrigo na sua família e é, em alguns momentos, questionada por Dona Flávia, a prima mais velha, que, mesmo com sua raiva, implicância e orgulho, faz de tudo para removê-la da ideia, às vezes com uma nesga de afeto, de fragilidade e disfarçados gestos de acolhimento, mas contando que ela aceite as condições de viver naquela casa. Dorotéia, linda e amorosa, nega o destino e entrega-se aos prazeres sexuais. Este é seu crime, e por ele pagará com a vida do filho e buscando a sua remissão. Na história desta família de mulheres, o drama se inicia com o pecado da avó que amou um homem e casou-se com outro. É neste momento que recai sobre todas as gerações de mulheres da família a “maldição do amor”. Elas estão condenadas a ter um defeito de visão que as impede de ver qualquer homem, se casam com um marido invisível e sofrem da náusea nupcial – único sinal de contato que teriam em toda vida com o sexo masculino. Em troca de abrigo, Dorotéia aceita se tornar tão feia e puritana como as primas.


O motivo central que organiza a peça é o dilaceramento do espírito humano e o delírio que se constitui através da fissura, das vontades. As personagens são “fissuradas” por algo que não podem ter: o sexo. A convivência entre prazer e pureza em que ao mesmo tempo são cortadas ao meio pela tensão daí decorrente, que termina por destruir as formas de vida, ou seja, a personagem central pecou e se arrependeu. Arrependeu? Nem tanto, pois sob a instigação de Dona Flávia, para concluir sua purificação pela feiura e pela doença incurável deve pecar novamente com Nepomuceno, o senhor das chagas. Dorotéia é uma mistura de sonho, pesadelo, desatino e destino irremediável. Por um momento paira a esperança de que a maldição não se cumprirá, mas ela é irreconhecível.


De todos os símbolos presentes na obra, o mais enigmático para os dias de hoje é o do “Jarro”, pois ele representa a imagem do espaço do prostíbulo, graças ao uso que dele faziam as mulheres, sobretudo as prostitutas na precariedade de seus ambientes, para se lavar depois do ato sexual.


O uso do símbolo presente na obra, “uma casa sem móveis”, é o fio condutor para essa encenação onde o espectador está junto com o ator, diminuindo assim, a distinção entre palco e plateia. Assim, o texto “Rodrigueano” ganha outro valor, tanto para os atores quanto para o público, pois as interpretações são baseadas no íntimo das relações entre ator/público e ator/espaço, propondo assim uma verossimilhança entre real e imaginário não presentes na obra. Nesta encenação o público é convidado a entrar literalmente na casa das primas de Dorotéia, com 100 lugares disponíveis no palco.


Outro ponto alto da encenação e que a diferencia das demais é o coro masculino, não presente na obra, intitulado pela direção como “Os Homens Jarro” que representam tanto a aparição do signo “jarro” como os homens que passaram pela vida da ex-prostituta. Esse coro permeia a encenação executando ao vivo os sons e a trilha do espetáculo.


O projeto Dorotéia surgiu do encontro entre a atriz Rosamaria Murtinho e o ator e diretor Jorge Farjalla da Cia. Guerreiro, após uma apresentação do espetáculo “Paraíso Agora ou Prata Palomares”, de Zé Celso Martinez Correa, onde enxergando nesse tipo de trabalho um uso diferenciado da pesquisa, da linguagem e da proposta cênica no uso do espaço, Rosamaria propôs uma parceria para comemorar seus 60 anos de carreira, produzindo o espetáculo.


Em entrevista para a nossa equipe o diretor e também preparador corporal Jorge Farjalla revelou que nunca sai satisfeito de seus trabalhos, não pode nos dizer que sai com a sensação de dever cumprido ! Ele também como artista revela que quer sempre mais, e tem um olhar bem criterioso diante das cenas e acham que algumas poderiam mudar algumas coisas, ou sair de uma outra forma !


Farjalla comenta que para a preparação do espetáculo em São Paulo ele foi o que mais trabalhou, tendo acompanhado a visita da equipe técnica no espaço, além de fazer a preparação dos atores e direção em cena. “Os atores chegaram três dias antes da estreia de hoje, já eu, cheguei bem antes fiz a visita técnica, e desde lá não parei mais de trabalhar.” comenta o diretor.


Rosamaria Murtinho revela que é um prazer estar encenando em São Paulo, uma terra que sempre a recebe muito bem, com muito carinho e sempre com casas lotadas em seus trabalhos. A atriz completou que para vivenciar D. Flávia também passou por um período de descontrução, e que teve uma preparação não formal, porém uma preparação de uns 3 meses para a construção desta personagem.


Letícia Spiller comenta que está sendo uma honra trabalhar com Rosamaria Murtinho, ainda mais comemorando os 60 anos de carreira da atriz, já para a sua preparação em cena foi mais para entender a descontrução da personagem, “Tive que entender como funciona o descontruir de um personagem, mais um descontruir completo e complexo como manda Nelson Rodrigues, é lindo poder encenar este autor”, revela a atriz.


Spiller ainda faz o convite pra todos poderem estar vindo brindar aos 60 anos de carreira de Rosamaria, e ver este espetáculo completo e surpreendente que é Dorotéia.

Serviço:

Datas: 12 de Maio á 02 de Julho de 2017

Horários: Sexta e Sábado às 21h | Domingo às 19h

Ingressos: Platéia Premium –no palco R$ 110,00 | Platéia R$90,00 | Balcão R$ 70,00 (Com opção de meia entrada).

Classificação: 16 anos

Duração: 90 minutos.

Local: Teatro Cetip

Endereço: Rua Coropés, nº88 – Pinheiros

Telefone: (11) 4003.5588

Bilheteria: Terça a sábado das 12h às 20h; Domingos e feriados das 13h às 20h.

Vendas: www.ticketsforfun.com.br

bottom of page