(Foto: Felipe Felizardo / Divulgação)
A peça se passa em uma época pré-feminista e levanta questões como a liberdade, os padrões de vida impostos pela sociedade e a sensação de sufocamento na vida familiar.
A trama retrata a vida cotidiana de April Wheeler (Andréia Horta) e seu marido Frank (Fabrício Pietro), um casal de classe média aparentemente feliz, que mora com seus dois filhos em um idílico subúrbio de uma pequena cidade nos Estados Unidos, na década de 1950. A história revela momentos intensos da vida cotidiana deste casal que ao cumprir as convenções sociais impostas sufocam seus mais profundos anseios, envenenando sonhos e aspirações. O espetáculo nos apresenta a progressiva frustração que acomete os dois, conforme assistem a suas vidas passar como um acúmulo de instantes sem sentido.
“A obra, mesmo tendo sido escrita no início da década de 60 e contando a história de uma família americana suburbana dos anos 50, carrega em seu cerne uma atemporalidade de proporções gigantescas, pois ela fundamentalmente nos fala de como nossos projetos de realização pessoal podem ser sufocados em nome da estabilidade social e financeira. Esse assunto não diz respeito a uma época específica, e sim à problemática humana mais profunda, independente de tempo ou lugar”, diz o diretor Marco Antônio Pâmio.
Nessa época pré-feminista, April é uma dona de casa que tem o sonho de ser atriz frustrado. Ela elabora um plano romântico para se mudar com a família para Paris, onde será possível reavivar seu relacionamento com o marido, cumprindo seu profundo desejo de liberdade e dando a ele a chance de se “encontrar”.
Sobre sua personagem, Andréia Horta comenta: “Sinto a alegria de ter vivido até agora muitos personagens, com alguns tenho semelhanças com outros não. Sempre tentamos encontrar pontos de contato, mas nem sempre acontece, o que é bom também, porque, a partir do desconhecido, começa a criação. Para April, tenho me conectado com tantas histórias de mulheres que viveram oprimidas, sufocadas pela idealização da família e do papel que acreditaram que nós mulheres deveríamos ocupar como se tivéssemos que representar o papel que nos foi dado sem que pudéssemos escolher outro destino”.
Já Frank tem um emprego relativamente bem remunerado, mas muito tedioso, e espera conseguir em breve uma promoção. Inicialmente, ele fica entusiasmado com a ideia da esposa, mas, aos poucos, passa a sabotá-la, alarmado com a possibilidade de mudança, pois acredita que precisa encontrar a felicidade em sua vida concreta.
Para construir sua personagem, Fabrício Pietro inspira-se nos modelos de família tradicional ao seu redor. “Fui criado em uma sociedade na qual a figura masculina tem obrigação de ser forte, provedora, maliciosa, chefe da casa, e bem-sucedida. Ainda que eu tenha consciência destas questões e lute contra elas, sei que estão plantadas no meu DNA social”, acrescenta.
O casal não sabe se abre mão de seus verdadeiros desejos ou enfrenta o peso do conformismo. Eles descarregam suas frustrações um no outro e raramente compreendem o ponto de vista do parceiro, refletindo a desilusão do sonho americano, o “american way of life”. Mas, diante dos olhares de seus vizinhos, eles representam os pilares de tudo o que há de bom; são pessoas charmosas, contagiantes, exemplares e especiais, o que afirma a maneira como se vêem.
Essa dicotomia entre a realidade (para o casal) e a ficção (para os vizinhos) faz com que a história seja um inquietante retrato da busca desesperada por uma única chance na vida de se fazer o que se quer para que tudo valha a pena. “A própria dramaturgia nos conduz a isso, uma vez que enxergamos o casal na sua intimidade e no convívio com os outros personagens que os cercam no mundo exterior. Nosso elemento inspirador é o próprio teatro, na medida em que essa vida levada pelos dois é, de certa maneira, representada para os outros. Todos representam papéis sociais, mas o que eles vivem entre quatro paredes se distancia bastante do que deixam transparecer para o mundo. E, tanto quanto no teatro, esses papéis precisam ser extremamente bem representados”, explica Pamio.
Tal como uma tragédia grega, a obra gira ao redor das falhas morais de suas personagens centrais ao discutir temas como a liberdade, o quanto as pessoas são capazes de se autossabotar para caber nas expectativas sociais, a distância entre a felicidade idealizada e a vida concreta, a busca por uma vida autêntica, os modelos irreais de felicidade impostos pela sociedade, como o homem lida com o sucesso da mulher, seu desejo de autoafirmação e o medo diante de certezas questionadas.
Serviço:
Data: 11 de Outubro a 17 de Novembro
Local: Teatro Raul Cortez
Endereço: Rua Dr. Plínio Barreto, 285 - Bela Vista
Horário: Sexta 21h30, sábado 21h e domingo 20h.
Horário da Bilheteria: De terça a quinta, das 15h às 19h; e de sexta a domingo, das 15h até o início do espetáculo (Não abre aos feriados).
Informações: (11) 3254-1633
Ingressos: R$ 50,00 (com opção de meia entrada)
Vendas: Bilheteria | Online
Duração: 100 minutos
Classificação: 14 anos